Artigo publicado no
Jornal Diário de Sorocaba
do dia 20 de novembro de 2013.
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Cidadania não é
apenas ter a possibilidade de depositar votos em uma urna. Cidadania é ter a
consciência de pertencimento a um povo, é ter igualdade de direitos, além da
igualdade de condições materiais para conduzir uma vida digna.
Nesta
quarta-feira (20), comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. Nessa mesma
data, no ano de 1695, foi morto Zumbi, o
líder do Quilombo dos Palmares. E hoje, vemos que o espírito que conduziu a
batalha de Zumbi pela liberdade de seu povo, continua pulsando em cada sujeito
humano que luta pela igualdade racial, pela igualdade de todos os excluídos –
negros, brancos pobres, mestiços, índios, deficientes físicos – que constituem
a base onde se erigiu a pirâmide social do país, ao longo de sua formação
histórica.
Três séculos
depois de Zumbi ter se insurgido contra a potência opressora de um dos maiores
impérios da história ocidental, a mesma luta se traduz agora com o
estabelecimento de políticas públicas de ação afirmativa, democratização de
direitos e melhoria das condições materiais da base da pirâmide social
brasileira (pirâmide que lamentavelmente ainda existe).
Em nosso país,
temos políticas de ação afirmativa no Ministério da Saúde, no Ministério da
Educação, no Ministério da Cultura, na Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial e no Ministério do Meio Ambiente.
Na área da
educação – sem a menor sombra de dívida, o espaço onde se molda a cidadania, se
travam as batalhas mais longevas contra a discriminação, a pobreza e a
desigualdade – temos observado evoluções importantes em vários aspectos: tanto
o maior investimento dos governos municipais, estaduais e federal em escolas,
universidades e cursos técnicos, quanto o estabelecimento da política de cotas
e a ampliação substancial do número de bolsas de estudo em cursos de
tecnologia, graduação e pós-graduação, para alunos egressos de escolas
públicas.
Mas as políticas
de ações afirmativas não podem ser desligadas das medidas de caráter
estrutural. Ao mesmo tempo em que os governos promovem bolsas e programas de
transferência de renda (Prouni, Fies, Bolsa Universidade, Bolsa Família, Renda
Cidadã, Ação Jovem, etc.), a população não pode prescindir do debate e da
cobrança de garantia de uma educação básica e pública de qualidade, mesmo
aspecto se aplica às melhorias no sistema de saúde e segurança pública.
As críticas mais
conservadoras contra as políticas de ação afirmativa mostraram-se recheadas de
preconceitos, mais do que de razões. Cotistas de universidades, bolsistas
técnicos e universitários egressos de escolas públicas, trabalhadores ingressos
por meio de políticas de cotas, mostraram-se tão bons em seu desempenho
funcional e educacional quanto todos os cidadãos que não se enquadraram nos
critérios de cotas e bolsas.
Quem ganhou com
essas políticas? Não foi apenas o cidadão que nelas se enquadrou, mas todo o
país, que recebeu e continua recebendo um contingente de profissionais
altamente capacitados, que hoje estariam em subempregos pela simples e
dramática falta de oportunidades, pela desigualdade que a Constituição repudia,
mas que a realidade social e econômica impõe.
Em que pesem
todas as conquistas já alcançadas, temos muitas lutas ainda a travar, para
erradicar da sociedade esses gravíssimos problemas que são a discriminação e a
falta de oportunidades. A luta por políticas estruturais, que garantam a
igualdade entre todos os cidadãos brasileiros, deve ser travada diuturnamente
por todo homem e mulher que respeite uma ética universal, que conhece apenas
uma consciência: a consciência humana.
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